10/07/2016
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By:
Raquel Pinheiro/
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- Entretenimento, Filmes, Música
Só quem assistiu a “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain” conhece a simplicidade desse filme. E nem todos os que assistiram foram capazes de compreender que a junção de tantos elementos simples formaram uma obra inacreditável, que toca fundo aos admiradores do bom cinema, e das pequenas coisas da vida. Vamos agora mergulhar nos pequenos detalhes do fabuloso universo de Amélie Poulain. Não nos grandes fatos, repito, mas em alguns detalhes…
A história de Amélie fala basicamente de uma infância triste, mostrando-a como uma criança isolada e sem amigos (reais), que perde a mãe e sofre pelo distanciamento emocional do pai. Criada numa vida que seria motivo de depressão para qualquer um, nossa heroína decide fazer sua existência valer nos pequenos prazeres da vida. A moça cresce e, após deixar a vida de subúrbio que levava com o indiferente pai, a inocente Amélie muda-se para o bairro parisiense de Montmartre, onde começa a trabalhar como garçonete. Certo dia encontra uma caixa escondida no banheiro de sua casa e, pensando que pertencesse ao antigo morador, decide procurá-lo e é assim que encontra Dominique (Maurice Bénichou). Ao ver que ele chora de alegria ao reaver o seu objeto, a moça fica impressionada e adquire uma nova visão do mundo. Então, a partir de pequenos gestos, ela passa a ajudar as pessoas que a rodeiam, vendo nisto um novo sentido para sua existência. Contudo, ainda sente falta de um grande amor.
Aos que esperam um grande enredo, a história de Amelie nada diz. Repito: este filme é para quem, como a protagonista, reconhece os detalhes e pequenos prazeres da vida.
E o que torna o filme tão importante? Do início ao fim do longa metragem nos sentimos envoltos numa atmosfera diferente,causada pela luz e pelas cores. O filme tem predominância das cores vermelha e verde, além de parecer ser filmado com um filtro alaranjado. Mas por que essas cores? Os tons predominantes da fotografia, com suas cores em vermelho, verde e amarelo foram inspirados nas pinturas do artista catarinense Juarez Machado.
Seguindo a ordem natural do acaso que leva a destinos fabulosos, Amélie descobre sem querer uma caixa com objetos perdidos de um antigo morador do apartamento agora por ela habitado. A essa altura do filme lembrei de um livro relativamente conhecido chamado Verônica Decide Morrer, de Paulo Coelho. Tanto Amélie quanto Verônica necessitam de algo mais, uma motivação maior para viver. A diferença é que Amelie decide pela vida. Não por sua vida, mas por dar sentido à vida daqueles que estão à sua volta.
Os pequenos prazeres da vida
Já parou para pensar em quantos casais podem estar tendo um orgasmo neste exato momento? Não?
Alguma vez já deixou de prestar atenção ao filme no cinema para ver a reação das pessoas que o assistem? Não?
E quebrar a casca dura de um delicioso doce com uma colher? Te parece interessante?
Tudo isso pode parecer bobagem, mas os pequenos prazeres que Amélie desenvolve ao longo de sua vida representam todos aqueles pequenos momentos de alegria pura que temos ao fazer ações que, para os outros, não fazem sentido. E quem nunca afundou a mão num saco de sementes que atire a primeira pedra!
A trilha sonora
Uma das partes mais maravilhosas do filme, que prende o espectador e o faz viajar e sentir Amélie Poulain a fundo, é a trilha sonora do genial Yann Tiersen. Cada música, cada pequeno acorde, casa inteiramente com as cenas, nos fazendo viajar e ver o mundo pelos olhos de nossa protagonista. E se você não reparou na trilha sonora, segue um link que, eu garanto, fará você se tornar fã deste fantástico compositor e da OST do filme:
Nino, o amor e as desventuras de Amélie
Perdida em suas missões de trazer valor à vida alheia (e trollar algumas outras, como fez com o dono da barraca de verduras \o/), Amélie esquece-se de si mesma. Esquece-se de buscar o amor. Mas o acaso, mais uma vez, a leva a um destino fabuloso ao topar com Nino. O rapaz também conta com alguns hábitos recorrentes e rituais, de certo modo compatíveis com os de Amélie – sendo o mais notório reconstruir fotos 3×4 rasgadas e descartadas no lixo de uma cabine de instantâneas.
Percebendo que aquela pode ser sua paixão à la contos de fadas, Amélie tenta uma aproximação. Mas esqueça dos métodos tradicionais, a protagonista tem seu próprio jeito, com ligações anônimas e pistas espalhadas por um parque de diversões. Ver suas desventuras é uma experiência das mais gratificantes, e nem as situações previsíveis e muitas vezes ‘fantásticas demais’ estragam a obra.
Sabe a menina com o copo d’água?
Não poderíamos esquecer o amigo de Poulain, que lhe oferece biscoitos e lhe mostra suas pinturas. O pintor, o homem de ossos de vidro, que tudo sabe e a tudo observa. Ele é, na verdade, uma espécie de Arauto de Amélie. Quando a moça se vê desencorajada, é a mensagem dele que a faz ir em busca de sua própria felicidade:
” – Então, minha querida Amélie, não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar essa chance, com o tempo seu coração ficará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então, vá em frente, pelo amor de Deus.”
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