30/08/2016
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Eu Mãe/
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Depoimento “Eu,mãe”: Nathália Donato, 32 anos, consultora de alimentação infantil, mãe de uma menina de quatro anos
Eu sempre quis ser mãe. E uma mãe daquelas que leva para as aulas de ballet, leva e busca na escola, faz a lição de casa. O que significa que eu já sabia desde o começo da minha carreira de jornalista que, em algum momento, aquela rotina maluca de abrir o serviço de notícias em tempo real às 7h da manhã tinha prazo de validade.
A bem da verdade, eu nunca fui de me prender por muito tempo no mesmo lugar. Sabe aquele medo de jogar tudo para o alto, virar a mesa e mudar de emprego para buscar o que te faz feliz? Nunca tive isso.
Em janeiro de 2010, quando já pensava em engravidar e não me sentia mais feliz com meu emprego numa agência de notícias, pedi demissão sem nada em vista. Queria tentar algo novo. Comecei a tentar engravidar em junho de 2010 e achava que seria muito rápido – esse pensamento combina com a pessoa controladora que eu sempre fui. Mas não foi bem assim. A menstruação não regulava, atrasava e não era nada e eu fui achando que alguma coisa deveria estar errada.
Quando 2010 estava perto do fim, menos de um ano depois de eu ter pedido demissão da agência de notícias e ter iniciado uma carreira deliciosa como professora de inglês e tradutora, fui convidada a cobrir licença-maternidade na primeira agência de notícias que eu tinha trabalhado. Voltaria ao esquema de subir e descer a serra todo dia, mas topei.
Na época, estávamos planejando uma viagem aos Estados Unidos e o ano de 2011 começou com a busca para tirar passaporte, visto, planejar viagem, estrada todo dia. Em fevereiro, conversei com a médica e comentei da demora para engravidar e do ciclo irregular. Ela me pediu exames de acompanhamento de ovulação. Mas como eu trabalhava em outra cidade e estava com a cabeça ocupada com o desespero do agendamento do visto, acabei não agendando os exames.
Se eu tivesse, teria descoberto a gravidez logo no início.
Fomos até o Rio de Janeiro para tirar o visto. No avião da volta, parei para fazer contas e me toquei que estava atrasada há 42 dias. Na minha cabeça, a preocupação com o visto tinha atrasado até a minha menstruação (hahaha). Quando cheguei em casa, fui buscar meu cachorro que tinha ficado na casa da minha melhor amiga e comentei que estava tão tensa com a viagem aos EUA, que até minha menstruação tinha atrasado. “Gravidez, não?”, questionou minha amiga, tão certeira. Dei risada.
Demorei mais três dias para fazer o teste, com ela me pressionando todo dia a fazer, até que cheguei do trabalho numa quarta à noite, sentei para fazer xixi no palito e logo vi os dois risquinhos que mudaram completamente a minha vida.
Por algumas semanas, meu bebê foi chamado de “milho” por toda a família (devido ao tamanho minúsculo do feto), até que veio o resultado da sexagem fetal. Nunca tive dúvidas do nome. Era ela desde o início.
A gravidez contou com alguns pequenos sustos – um sangramento em Nova York, uma infecção grave do marido, com internação, que fez o chá de bebê ser adiado, um sangramento no final da gravidez e quando estava para completar 39 semanas, a constatação de que ela teria de nascer de cesárea quase que imediatamente.
O primeiro mês da minha foi bastante complicado para mim. Meu baby blues foi intenso, eu chorava muito, não conseguia dormir, tinha tremedeiras constantes, não me alimentava direito, mas conseguia completar minha primeira missão da maternidade: a amamentação. Sempre fui perfeccionista e se eu tinha lido que a amamentação é o ideal, esse teria que ser o meu objetivo. Meio louco pensar assim. Mas essa sou eu. Para mim, amamentar minha menina era um dos melhores momentos de ser mãe. O toque, aquele encontro de olhares, o poder de nutrir a minha filha. Nada superava aquilo.
Quando ela fez seis meses, estabeleci minha nova meta – sem saber que também se tornaria meu objetivo profissional. Eu, que mal sabia cozinhar e detestava legumes e verduras, decidi que prepararia todas as papinhas da minha menina. Queria uma filha que comesse bem.
E lá fui eu me aventurar na cozinha e pesquisar sobre o assunto.
Já contei que sou perfeccionista? Pois é.
Então, eu exigia de mim mesma fazer o que fosse mais correto. O ideal. Talvez não seja esse o melhor caminho, mas era o que me deixava mais segura. E para minha surpresa, era fácil e ela correspondia. Na primeira papinha ela devorou o prato. E veio a segunda, a terceira, a quarta, e dezenas de outras papinhas. Uma mais gostosa que a outra, uma mais aceita por ela que a outra.
Opa, acho que eu tenho talento para isso.
A pediatra mandava só amassar no garfo? Eu obedecia e dava certo.
Mandava aumentar os pedacinhos? Eu seguia e funcionava.
E assim fui criando a minha bebê que comia de tudo. Quando ela já tinha 1 ano e 3 meses e comia sozinha, meu pai lançou a pergunta decisiva da minha vida: por que você não investe nisso? Eu nunca vi uma criança dessa idade comer desse jeito e olha que eu criei três e conheço várias.
Eu havia voltado a trabalhar como tradutora quando minha filha tinha dois meses de vida, mas no mês daquela pergunta, eu tinha acabado de ser cortada da agência de notícias e estava procurando algo. Nem deixei a pergunta dele adormecer muito. A cabeça começou a funcionar a mil por hora. No meio da madrugada, acordei e mandei um e-mail para o marido com o assunto “vem comigo que no caminho eu explico”.
Ali eu contava para ele do nascimento da Chefe de Papinha. Criei a empresa em junho de 2013, apenas três meses depois daquela pergunta.
Minha filha foi o grande presente da minha vida. Eu sabia que queria mudar tudo para ser mãe, mas não sabia o quanto ela ia me mudar e como ela seria minha fonte de inspiração. Ela me desafia todos os dias, com sua inteligência, sua sagacidade.
Ela gosta de princesas e de super-heróis. Ela canta, dança, fala sozinha, é mais ligada do que eu. Ela negocia, ela argumenta, ela é independente. Minha filha nasceu para o mundo e ainda tem só quatro anos e meio. Ao mesmo tempo, ela é a criança mais carinhosa que eu já conheci. Todos os dias ela olha para mim e pergunta, “mamãe, você está feliz?”. Uma vez me chamou no meio da madrugada só para dizer que me amava. Quando ela solta a frase “eu te amo do coração para a vida toda”, ela derrete meu coração por inteiro. Sem dúvidas, ela já é minha maior parceira de vida.
Sou perfeccionista, mas bem longe de ser perfeita como mãe. Ainda não aprendi a equilibrar essa vida de mãe empreendedora. Me culpo quando estou trabalhando em casa e ela me chama para brincar. Quando ela diz “a mamãe só trabalha”, fico dilacerada por dentro. Mas também quero que ela aprenda que pode fazer e ser tudo que ela quiser. Sempre acho que estou deixando de fazer algo por ela. Todo dia penso que eu poderia ser melhor. A terapia me ajuda muito.
Agora estou na espera para ver se serei mãe novamente. Lembram da internação do meu marido na gravidez? Pois é, ela dificulta nossas chances de uma segunda gravidez. Nunca tinha ouvido falar em dificuldades de ter o segundo. A gente pensa, “ah, já tive um, certeza que posso ter outros”. Para a perfeccionista e controladora que sou, foi um baque.
Poucas pessoas sabem disso e eu ainda tenho que ouvir as dolorosas brincadeiras de “quando vem o segundinho? Não demora muito. Deixa de ser preguiçosa”. Só eu sei o quanto dói. Mas eu não desisti. E nem a minha filha, que fala da “irmã” todos os dias. É arrepiante ver como a “irmã” já existe na vida dela. Ela já escolhe presentes, ela conversa com a irmã por sonho, já até escolheu o nome.
Penso que se um dia eu for presenteada de novo com um filho, o presente maior será para ela, doida para ser irmã mais velha. Minha filha transformou a minha vida. Não sei mais como eu existia sem a existência dela. Ela me tornou mãe e por ela eu aprendo todos os dias essa loucura que é a maternidade. E eu não trocaria isso por nada.
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